En(X)ada

Deixo no chão a enxada, despreocupado. As mãos sujas, mas polidas, antevêm um início de fim de tarde onde espreito pelo postigo que fiz no peito e vejo, saboreando de olhos fechados o último calor da vida, o Sol preso num firmamento ao qual chamo casa, é quase dia e quase noite, cedo para acender a lareira, tarde para laborar, que há-de um homem, mesmo que crescido, fazer além de lacrimejar?
Um dia subirei ao largo de uma vida, crescendo cedo o fim do medo, a bainha de um tecido bordado pela rebeldia. Mas enquanto a obediência se revela fugaz, que cresça no homem vontade de ser rapaz e lhe sobre de grãos no quinteiro aquilo que lhe dizem faltar nas mãos, dinheiro.
Vem lesta a Primavera, sem arrabaldes de calor, apenas o rápido e imprevisível voo da andorinha no meu olhar e nos céus que com elas também se fazem meus.
As horas aglomeram-se à cabeceira e eu, em vão, tentando fazer com uma enxada a linha da minha vida numa só leira.

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