Acredito que daí, enquanto esburacas o céu nocturno com um dedo e, assim, rasgas e alargas o pequeno buraquito por onde passa a luz do paraíso (ou o que incautos chamam de estrelas), olhes com olhar de criança e vejas a complexidade de pessoas que correm agora mais do que a rotatividade deste astro sem luz, preso a uma órbita em torno de um astro que, irado, queima, como nós, o combustível dos seus dias. Não faz sentido, pois não? Corremos tanto atrás do tempo que ele, ultrajado sentindo-se, se acelera em sentido negativo até percorrer de forma implacável os dias conquistados e outras moratórias que poderíamos colher e nos trazer, não em bandeja, não o merecemos, mas repentinamente o final do dia, despojado, preso ao segundo seguinte, segundo eu, que de tempo conheço apenas uma letra acima de xyz.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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