Gosto de perceber o tempo adormecido, ainda que espreguiçado, vai gotejando pelos anos sem saber que é monumento. Rosáceas forjadas por mãos retorcidas, corações que não saberão o bater de uma pedra. Acredito que ser igreja, mosteiro, memorial ou aguardente à espera de ser elevada por uma mão cheia de dedos toscos, ásperos, torcidos e cansados, seja coisa para qualquer balada que se deixa cair ao ouvido. Olvido de facto quantas rugas se perderam para que nascesse o cansaço, um abraço, ou tudo aquilo de que é feito um telhado. E pode ser, no telhado, o musgo que se deixa esverdear na tentativa do barro o convidar a ser tempo, adormecido, espreguiçado, para se fazer momento.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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